«Seis dias depois, Jesus tomou
consigo a Pedro, Tiago e João, e os levou, sozinhos, para um lugar retirado
sobre uma alta montanha. Ali foi transfigurado diante deles» (Marcos 9, 2).
Pede à Quaresma que te ensine o caminho da
montanha. Para que ouses subir ao lugar do encontro com o Deus da vida e da
história. Na montanha contemplarás o Rosto. E fixarás nele o olhar. E
descobrirás nele o teu rosto. E contemplarás todos os horizontes. Os do teu
coração e todos aqueles onde o humano se espraia em tantos desafios.
Pede à Quaresma que te ensine o caminho da
montanha. E ousarás descer para que o teu olhar de encantamento incendeie a
vida por onde passas. E sejas sinal de ressurreição.
Pede à Quaresma que te ensine o caminho do
poço de Sicar. Sentado à beira desse lugar de encontros singulares está Alguém
que te oferecerá água viva. Outrora uma samaritana deixou-se enamorar pelo
olhar e pelo coração livre de um sedento. Também ela não ousou recusar dessa
água que sacia todas as sedes.
Pede
à Quaresma que
te ensine o caminho do poço de Sicar. Para que Deus se sente contigo e te
sacie. E o teu poço-coração possa recriar-se e ser fonte. E alimentar outras
nascentes. Também as que teimam em não jorrar. E saciar todas as sedes e as de
todos os que se cruzam com a borda do teu poço.
Pede à Quaresma que te ensine o caminho para o
abraço de Deus. O caminho para esse lugar onde a festa nunca termina. O caminho
para esse lugar de onde saíste para viver a vida do sem rumo e do sem sentido.
Porque querias ser livre. Porque querias escutar as mil melodias que ainda não
tinham sido tocadas no teu coração. Em vez disso a vida empurrou-te para um
lugar de desespero onde nem as bolotas eram tuas amigas.
Pede à Quaresma que te ensine o caminho para o
abraço de Deus. E ousa recomeçar. E ser filho. E vestir o traje da festa que o
Amor prepara para ti a todo o instante.
«Não é preciso que vão embora.
Dai-lhes vós mesmos de comer» (Mateus 14, 16).
Pede à Quaresma que te ensine o caminho do coração do irmão. Daquele que está debruçado sobre o próprio coração em sangue. O coração daquele que a vida atirou para a beira da estrada e que agora espera um qualquer samaritano. O coração e a vida daquele que este tempo defraudou espera que tu sejas consolo e abrigo. Também abraço.
Pede à Quaresma que te ensine o caminho do
coração do irmão. E ousa partilhar da tua pobreza. Daquilo que mesmo fazendo-te
falta suavizará a dor de quem já nada tem. De quem já não tem onde morar ou de
que se alimentar.
Pede à Quaresma que te ensine o caminho de
Jerusalém. A cidade santa espera que os teus passos sigam firmes na senda
d’Aquele que já fez o mesmo caminhar. Arrisca nesse seguimento. Mesmo que a luz
teime em esmorecer dentro de ti. Mesmo que te impeçam de caminhar atrás do
Mestre. A cidade santa espera por ti.
Pede à Quaresma que te ensine o caminho de
Jerusalém. Porque a vida e a felicidade que tanto desejas também passa por lá.
Não ouses voltar as costas à cruz que a cidade te entrega. Segue atrás desse
desejo de vida que nenhuma dor será capaz de enterrar. Pede à Quaresma que te
ensine o caminho de Jerusalém. E deixa-te morrer. A terra que és será nova
quando o milagre do grão de trigo irromper.
Diretor espiritual do Seminário Conciliar de S. Pedro e S. Paulo, Braga