A nossa Comunidade é formada por cristãos: homens e mulheres, adultos e jovens, de todas as condições sociais que desejam seguir Jesus Cristo mais de perto e trabalhar com Ele na construção do Reino, e reconheceram na CVX a sua particular vocação na Igreja (PG4)

16 agosto 2018

Palavras Com Ritmo, II


Isabel Figueiredo

Licenciada em História, trabalha na Rádio Renascença desde 1990. 

A escrita surge no contexto da produção de conteúdos para rádio, tendo recentemente participado na publicação de uma coletânea de apontamentos escritos para a RFM, com o título "Vale a Pena Pensar Nisto". 

Mãe de três filhos, publicou também um pequeno livro sobre a maternidade, intitulado "Espera". 

A "Via-Sacra com Maria" foi rezada pela primeira vez em 2014, numa iniciativa da Paróquia de Nossa Senhora dos Remédios, em Carcavelos, localidade onde reside. Em 2015 ganhou uma nova forma, em livro. Para além das meditações de Isabel Figueiredo, as ilustrações são de João Sarmento, sj e o prefácio é assinado pelo Patriarca de Lisboa, D. Manuel Clemente.



LINHAS TECIDAS COM TEMPO © maio 2018, Inst. Miss. Filhas de São Paulo


(1) No seu livro ‘Linhas Tecidas Com Tempo’, as palavras iniciais que partilha com quem começa a viagem pelo seu livro, são “… a decisão de publicar um texto […] ou uma crónica de opinião, implica sempre a decisão interior de nos desprendermos das palavras que nos preencheram, de forma breve ou não.”
Isabel, não há, internamente, uma voz que lhe pede para Ser Luz nos dias de hoje e se deixar conduzir pelo Espírito Santo? Se há, como cria espaço para a escuta e o Sim como Maria?

Quando me sento a escrever uma oração da manhã, não sinto que me esteja a ser pedida uma tarefa ou missão. Vou antes à procura das palavras com que quero falar a Nosso Senhor, sobre algo que me tenha tocado, seja motivo de alegria ou de tristeza, de graça ou de súplica. Quando as releio, percebo muitas vezes que não podem ser apenas da responsabilidade da minha frágil humanidade… acredito que o Espírito Santo sopra onde quer, até num pequeno gabinete onde trabalho. E agradeço.
O espaço para a escuta precisa de silêncio e o meu sim, também pequeno, também frágil é apenas suportado por não ficar parada a pensar no que dirão os outros, quando ouvirem ou lerem o que escrevo.


(2) D. Manuel Clemente escreve que há uma ‘grande sensibilidade ao dia a dia em que as vidas decorrem…’.
Pensa que esta ’grande sensibilidade’ é construída em relação ou é-lhe inata?

Acredito que a sensibilidade tem sempre uma dimensão inata, que pode ou não, ser trabalhada, no sentido de construída. No meu caso, julgo que há um gostar natural dos outros, que me leva a ser sensível a uma expressão, ou tom de voz, uma palavra. Se me mantiver alerta para o que se passa à minha volta, se me mantiver interessada em que está ao meu lado, a sensibilidade vai ocupando espaço. Um dia a dia que é marcado pela dimensão humana, mas que também é feito de formas, de cores, de cheiros, de beleza, de choque, de atração ou negação.

Que ferramentas utiliza para cuidar da mesma?

Não desistir. Não desistir de começar cada dia com um bom dia a Jesus, com um sorriso a Maria. Não desistir dos outros, nem de mim.


(3) Na apresentação do seu livro, no dia 5 de julho na Capela de Nossa Senhora das Amoreiras, a Irmã dizia que o livro é o “Semáforo Vermelho, a pausa que pode transformar o dia e convite a saborear um de cada vez…”.
Na vida inteira que resulta seguramente da forma como ‘conduz e se deixa conduzir’ como funcionam os ‘Semáforos vermelhos’? Quem são e quando surgem?

Não tenho a certeza, mas penso que a Irmã Eliete se referia à velocidade a que vivemos os dias. Sempre atrasados, sempre com pressa. Por vezes é preciso um sinal vermelho que nos obriga a parar. Pode ser um filho que fica doente e temos de adiar uma reunião. Pode ser uma colega que bate à nossa porta e paramos o que estávamos a escrever. Mas também pode ser um sobrinho que nos convida para
padrinhos de casamento ou uma filha que anuncia a sua gravidez. Situações de grande alegria ou de maior preocupação, que implicam vidas, são sempre semáforos que nos alertam.


(4) José Frazão, fala da arte da atenção – o Olhar – presente ao longo das Orações reunidas no livro. Como ter num período mais lento, sereno e tranquilo, um Olhar que vê bem, que antevê e é ‘Lugar de possibilidade e Graça’?

Um olhar que vê e antevê é um olhar que se deixa permear pela permanente presença de Deus. O estar aberto a esta presença, que em tudo nos ultrapassa, abre um sem fim de possibilidades à atenção que damos a tudo o que nos acontece. A lentidão, a serenidade e a tranquilidade em tudo ajudam, mas também gosto de pensar em olhares rápidos e inquietos. Somos feitos de tanta diversidade.


(5) O livro é para mim uma viagem por etapas e disposições, como também está presente na sua organização interna – ROSTOS, MOMENTOS e EXPRESSÕES.
Esta organização surge de uma parte formal, da estrutura editorial ou traduz uma proposta de encontro para dar significado ao que tem que ter significado as Pessoas, os Momentos e as Expressões do quotidiano?

Esta organização foi-me proposta pela editora e senti que fazia sentido.


(6) No TPC (Trabalho Para Crescer) do Grão de Mostarda, CVX-BI para férias, escolhi a oração «O amor tem outra estrada…». Tocou-me o convite, contínuo, à conversão do caminho do Amor. Como filha, mulher e mãe aceita o convite? Dois exemplos, por favor.

A vida vai-nos construindo e hoje vivo com a convicção de que o Amor é a essência da nossa Fé. Não consigo chegar à santidade de Teresa de Ávila que nos ensinou que só o Amor basta, mas vivo muito à procura deste Amor. Uma palavra tão repetida, tão estragada pela forma banal como se consome… quando o Papa Francisco nos falou de um Amor com outra estrada, tocaram-me todas as campainhas. Somos feitos para este Amor, para caminhar nesta estrada. Como filha, aceito este convite quando repito pela décima vez à mesma pergunta de uma sogra idosa, cuja memória se vai perdendo; como mulher, aceito este convite, quando me lembro de que também sou responsável pela ida do meu marido para o céu; como mãe, aceito este convite, quando paro tudo o que estou a fazer, para ouvir o que os meus filhos me querem contar… e nenhum destes exemplos é fácil de cumprir…mas o Amor anda por aqui.


(7) Agradecendo a disponibilidade, o acolhimento e o compromisso em responder a todas as perguntas lançadas, que Graça a Pedir partilha connosco neste tempo próprio para gozar, internamente, tudo e todos.

Talvez que a oração escrita para dia 21 de julho, corresponda a esta sétima pergunta:

Oração da Manhã

Sai do carro, apressada e distraída.
Ia focada na entrega de um papel e pressionada
pelo relógio.
Quando atravessei a rua, o meu olhar viu a imagem
de uma rapariga sozinha, sentada nuns degraus.
Estava debruçada sobre uma perna e quando me aproximei
percebi que as lágrimas lhe corriam, silenciosas.

Já tinha passado por ela, quando decidi voltar atrás.
Explicou-me que tinha caído e a dor era quase insuportável.
Mas não corria sangue, não se ouvia um gemido.
Conversámos, fiquei a saber apenas o seu nome.

Deixei-a entregue a quem a sabia tratar melhor do que eu.
Nem a queda foi aparatosa, nem a ajuda extraordinária.
Mas percebi, uma vez mais, como estás connosco,
como Te podemos encontrar em olhares aflitos e sorrisos contidos.

Ajuda-me Jesus, a não andar demasiado apressada pelas ruas,
demasiado centrada em mim, demasiado distraída de tanta gente
que só precisa de uma mão, de um toque, de uma palavra.

E Te peço, protege a Catarina de outra queda, de todo o mal.


[Agradeço à Isabel Figueiredo o seu acolhimento, alegria e disponibilidade em colaborar nesta iniciativa.]


Unidas no Senhor,

By Sofia Preto
CVX-BI