“Os Demónios andam à
solta… Discernimento precisa-se!
No fim-de-semana de 22 e 23 de
Novembro a CVX-BI levou a efeito um Encontro de Advento sob o tema: “Os
Demónios andam à solta… Discernimento precisa-se!”.
A orientação esteve a cargo de
Alzira Fernandes e as atividades decorreram nas instalações do Centro
Apostólico de Nossa Senhora das Dores, no Paúl.
Procurando, tanto quanto
possível, fazer uma síntese do que foi este encontro, diria que Santo Inácio
descobriu a metodologia do conhecimento da pessoa humana e que através do
discernimento leva-nos ao encontro de um modo de estar na vida em plenitude.
Inácio reconheceu os dois rostos
do coração da pessoa humana:
A ferida e o poço, ou manancial - Todos nós temos uma ferida
profunda que trazemos desde o ventre materno. A
ferida gera medos e estes tornam-se muros de defesa.
Por sua vez, as compulsões (reações
e respostas mecânicas, inconscientes e desproporcionadas) têm sintomas.
São as feridas e as compulsões
que nos impedem de conhecer as nossas próprias potencialidades e geram em nós
uma imagem distorcida de Deus.
Raras vezes temos conhecimento do
que é mais valioso em nós e mais autêntico. Precisamos de limpar a ferida, mas
limpá-la a partir do próprio manancial que temos dentro, este Amor que habita
em nós. “Se eu deixasse Deus ser Deus na minha vida, sem Lhe impor os meus “ses”,
o que é que aconteceria?”
O manancial toca duas realidades:
a consciência e a água viva. A água não serve para si mesma. Esse potencial que
trazemos em nós torna-nos canal para que outros possam beber. Daí a importância
do nosso compromisso com o crescimento pessoal contínuo.
Depois foram abordados os temas:
o discernimento dos espíritos, os demónios da oração e os demónios do
apostolado.
O discernimento dos espíritos - O discernimento “não é tanto
conhecer a vontade de Deus, mas sobretudo saber situar-se, saber separar,
fazendo a vontade de Deus. … Deus vai-nos criando. O discernimento é caminho
para perceber os golpes do atuar criador de Deus no nosso interior, e através
do que faz, reconhecer a Sua presença. ... Que experimento? (…consolação –
desolação); onde me leva? (…tudo o que me conduz ao Senhor e ao seu Reino ou
…tudo o que me afasta do Senhor e do seu Reino)”.
Os demónios da oração – Dos
muitos exemplos apresentados destaco:
Despersonalizar a oração: sempre que
rezamos a um Deus impessoal, que está muito longe. Na oração ponho-me em
contacto com uma Pessoa. Estou em presença.
Não se entregar profundamente a Deus:
a inteligência, a memória, os afetos, os sentimentos, a sensibilidade. Por isso
não nos transformamos.
Os demónios do apostolado – O apostolado não é uma profissão nem
uma atividade. A título de exemplo:
O messianismo: induz o apóstolo a
tornar-se o centro de toda a atividade pastoral como se ele fosse o piloto e
Jesus o co-piloto.
Perder o sentido das pessoas: os
aspetos administrativos, organizativos e de planificação e supervisão convertem
o apóstolo num executivo da pastoral, ficando sem espaço psicológico para se
dedicar às pessoas.
Na manhã de domingo foi-nos
apresentado João Batista como figura de
discernimento e de Advento. João é a transparência do ser. Aquele que grita
no deserto.
Devemos fazer a nós próprios a
pergunta “quem és tu?” porquanto cada um de nós é um mistério para si e para o
outro.
Todos trazemos um grito dentro de
nós. E este grito significa que o meu ser tem necessidade do outro, de amar e
de ser amado. Por isso, tal como João, o nosso grito mais profundo é dito no
deserto, despidos de tudo o que são seguranças, de miragens, e em que nos
abrimos a Deus.
João aponta-nos ainda a missão. E
o fim da missão é que as pessoas que me estão confiadas possam chegar a Cristo.
Sob o tema Discernimento comunitário foram indicadas as 4 etapas a ser
seguidas.
Para finalizar foi ainda abordado
o tema o discernimento – uma opção pela
vida. Discernir é acertar o passo com Deus, que nos leva. É uma decisão
tomada com Cristo.
Para uma melhor compreensão, o
discernimento cristão foi apresentado como sendo a mesa do banquete: uma mesa
de quatro pernas em que todas são importantes para o seu equilíbrio. São elas:
A alegria da misericórdia (Lc 6, 36) – a misericórdia como uma
atitude de coração, como um modo de ser.
As obras de justiça solidária (Mt 25, 31ss) – verificar se algo que
experimento ou penso me leva a ser solidário com a pessoa carenciada.
A incompreensão e a perseguição (Mc 8, 34) – a cruz pelo facto de
ser fiel ao anúncio e à construção do Reino.
O amor de si mesmo – negar tudo o que me impede de” viver a vida em
abundância”, ou seja, todas as compulsividades, as reações desproporcionadas, a
culpabilidade. Viver em abertura à misericórdia do Pai para que a mudança seja
possível.
Concluindo, e como se pode depreender,
tratou-se de um encontro bastante denso e muito rico de conteúdo. Todos quantos
tivemos a graça de participar ficámos espiritualmente mais ricos e armados para
bem viver este tempo de Advento, não esquecendo, como tão bem referiu a Alzira,
que “A missão de Cristo começa onde eu estou!”.