Fátima, 27 a 30 de Março de
2014
INTRODUÇÃO
A Comunidade de Vida Cristã em Portugal (CVX-P) reuniu-se em Fátima na
sua XI Assembleia Nacional (AN), entre 27 e 30 de Março de 2014, com o lema
CHAMADOS ÀS FRONTEIRAS, APROFUNDANDO A NOSSA VOCAÇÃO, para aprofundar os
desafios lançados pela Assembleia Mundial (AM) do Líbano. Estiveram presentes
delegados de 78 dos 128 grupos da CVX-P.
Por coincidência de se
celebrarem neste ano os 40 anos da CVX-P, no Dia Mundial CVX fizemos memória da
nossa história. O tomar consciência da forma como o Espírito Santo nos guiou
foi sentido por nós como uma graça. Não podemos deixar de fazer referência, a
este propósito, à comunicação do P. Nicolás à AM, salientando a importância da
linguagem da história, «uma linguagem que fala das grandes coisas que Deus fez
por [nós] … [e nos dá] um sentido de pertença e de orgulho por [sermos] um povo
que pode verdadeiramente dizer “Deus está connosco”». Também tivemos a alegria
de celebrar o compromisso permanente de cinco companheiros e a afiliação de dez
novos grupos, caindo mais uma vez na conta de que «em cada momento algo de bom
acontece no mundo graças à acção de Deus através da CVX» (Franklin Ibañez).
Como preparação para esta Assembleia toda a comunidade teve
oportunidade de rezar e reflectir partindo dos textos do nosso Assistente
Mundial (P. Adolfo Nicolás), de Franklin Ibañez e da Exortação Apostólica do
Papa Francisco Evangelii Gaudium. Além destes, cada uma das equipas regionais
teve oportunidade de propor outros documentos de reflexão, dos quais salientamos
o documento do Pe. Anthony da Silva sobre a colaboração.
Abrimos os trabalhos ouvindo uma apresentação sobre a Exortação
Apostólica e tentámos identificar nela os pontos de contacto com o nosso modo
de estar e a nossa espiritualidade. Animados com as palavras do Santo Padre,
reunimo-nos em pequenos grupos para aprofundar o tema da nossa vocação e
identificar as fronteiras a que a CVX-P é chamada no momento presente.
Nestes dias de encontro, também houve espaço para a aprovação do
relatório e contas do triénio 2010-2013, para a eleição da nova Equipa
Nacional, e para alguns momentos de puro convívio. Acolhemos na Assembleia os
representantes da Equipa Mundial (ExCo), Denis Do-bbelstein, e do EuroTeam,
Marina Villa, cuja presença e contributos reforçaram a nossa consciência de
sermos uma Comunidade Mundial. 2
APROFUNDANDO A NOSSA VOCAÇÃO
Reflectindo sobre a nossa vocação, reafirmámos a nossa condição de
leigos, de cristãos envolvidos no mundo, que desejam ser o fermento e o sal,
correspondendo aos desafios de Jesus Cristo.
Foi claro para a comunidade que as suas raízes se encontram na
espiritualidade inaciana. Nesta Assembleia revimo-nos, uma vez mais, nos nossos
Princípios Gerais, em particular no PG 5 e no PG 12, o que interpretámos como o
reafirmar da nossa identidade.
O que sentimos como fruto desta Assembleia é a necessidade de uma
atenção especial ao pilar comunidade. A CVX tem crescido exponencialmente em
Portugal e a Assembleia, constatando isso, deseja acolher todos os que nos
procuram, aproximar-se dos que não nos procuram, e crescer bem.
Isto significa ser fiel à nossa vocação e implementar as estruturas
que potenciem esse crescimento ou reformar as existentes. Nessa linha,
identificámos os seguintes desafios:
- a responsabilidade pelo acolhimento dos que nos procuram e pela sua
formação enquanto cristãos e membros CVX;
- a sustentação do crescimento da comunidade (por exemplo, capacidade
de responder às particularidades dos grupos em integração como a CVX-U, a
iniciação e os grupos dos jovens adultos; o apoio pelas equipas de serviço aos
grupos; a formação de animadores e guias; a inter-relação entre as equipas de
serviço e entre estas e a comunidade de animadores);
- a consolidação do sentido de comunidade (que se expressa,
nomeadamente, pela co-responsabilidade financeira; pelo apoio mútuo; pelo
“sentir com a Igreja”; pela compreensão do papel da comunidade nos seus vários
níveis; pela disponibilidade para o serviço apostólico na comunidade; pelo
estreitar de laços entre os vários membros da CVX);
- a promoção do conhecimento das realidades e dos problemas internos
da comunidade, designadamente reforçando a comunicação, a participação, a
transparência dos processos de tomada de decisão e da prestação de contas;
- aprofundamento da vivência do ciclo apostólico (discernir - enviar -
apoiar - avaliar) como modo específico de proceder da CVX a todos os níveis;
- manter acesa a tensão pela constante busca da vontade de Deus, que
nos desinstala em cada etapa e nos confirma e fortalece para em tudo amar e
servir, numa entrega por inteiro, radical, reconhecendo que tudo nos vem de
Deus.
CHAMADOS ÀS FRONTEIRAS
Durante a Assembleia foi sentida dificuldade em distinguir o conceito
de fronteira do conceito de campo de missão. No geral, entendemos fronteira como
o limite da nossa zona de conforto; e campo de missão como a área aonde nos
sentimos chamados e enviados a construir o Reino.
Nos trabalhos, identificámos, sobretudo, campos de missão, num
conjunto variado, no qual se destacou a temática das famílias, dos pobres e dos
jovens. Em qualquer destas áreas de missão existem fronteiras que nos sentimos
desafiados a descobrir.
Na área das famílias somos sensíveis à problemática do acompanhamento
dos casais nas diversas fases da sua vida, ao acompanhamento das situações de
crise, da terceira idade, ao acolhimento das famílias monoparentais, dos divorciados,
dos recasados e educação para a parentalidade.
Na temática da pobreza somos sensíveis a todo o tipo de
vulnerabilidade, às novas formas de pobreza, aos idosos e outros
marginalizados.
Na temática dos jovens somos sensíveis à necessidade de adequar a
nossa linguagem à sua, de potenciar estratégias de aproximação e de investir na
sua formação cristã usando as ferramentas inacianas.
Sendo estes os campos de missão que mais se evidenciaram no decorrer
dos trabalhos, não excluímos outros a que a comunidade também se sentiu
chamada. Nestes também identificámos fronteiras que nos inquietam e desafiam a
responder.
A Assembleia sentiu-se interpelada a aprofundar a colaboração com
outros (dentro e fora da Igreja) como o seu modo habitual de estar e, nessa
medida, como forma de agir na missão e nas fronteiras.
A Assembleia identificou, entre outras, a falta de formação e de
tempo, como obstáculos ao seu maior envolvimento na missão. Com efeito, a
importância da formação a diversos níveis foi sublinhada.
RECOMENDAÇÕES
A Assembleia recomenda à nova Equipa Nacional:
a) aprofundar os desafios colocados pelo nosso Assistente Mundial no
documento em que se dirigiu à AM do Líbano, continuando a reflectir sobre os
temas das fronteiras e campos de missão;
b) estimular a reflexão acerca de como podemos responder ao apelo da
AM e do Santo Padre a sairmos da nossa zona de conforto e a estarmos nas
fronteiras e campos de missão, em particular naqueles a que a Assembleia se
sentiu chamada;
c) aprofundar formas de colaboração com a Companhia de Jesus e com
outras estruturas, da Igreja ou de fora dela;
d) desenvolver processos de formação, destinados a guias, animadores,
e membros CVX;
e) promover a criação de redes apostólicas e a divulgação de experiências
de missão.
Fátima, 30 de Março de 2014