A nossa Comunidade é formada por cristãos: homens e mulheres, adultos e jovens, de todas as condições sociais que desejam seguir Jesus Cristo mais de perto e trabalhar com Ele na construção do Reino, e reconheceram na CVX a sua particular vocação na Igreja (PG4)

15 novembro 2018

Palavras Com Ritmo, V


«Caríssimos jovens!

É-me grato anunciar-vos que em outubro de 2018 se celebrará o Sínodo dos Bispos sobre o tema “Os jovens, a fé e o discernimento vocacional”. Eu quis que vós estivésseis no centro da atenção, porque vos trago no coração.»


(1) “O Espírito Santo, que o Pai enviará em meu nome, lhes ensinará tudo e recordará tudo o que Eu lhes disse”.
O Papa Francisco iniciou assim a homilia da Santa Missa, por ocasião da inauguração do Sínodo dos Bispos, que se realizou no Vaticano de 3 a 28 de outubro, com um trecho do Evangelho de S. João. Procurou transmitir na abertura do Sínodo que a Esperança, os Sonhos e a Alegria resultam daquele que se deixa moldar pelo ES.

Como dentro da comunidade paroquial que assiste, P. Luís, consegue sensibilizar para o ES que move e molda nesta situação de Sínodo sobre “Os jovens, a fé e o discernimento vocacional”?

Seria demasiado pessimista dizer que que não, que as comunidades não têm essa perceção do trabalho e da força do Espírito Santo a agir naqueles que se dispõem a refletir e trabalhar uma situação tão urgente para a Igreja, como o é a questão dos jovens.
Porém talvez uma porção significativa dos cristãos possa pensar que toda esta questão passará muito por estratégia humana e de redescoberta de dinamismo para “convencer” os jovens a ocuparem o seu lugar na Igreja, a fim de que ela, como Instituição transmita um espírito mais alegre e jovial.
Mas, aquilo que aqui se coloca, precisamente, é o dinamismo entre as capacidades humanas e a ação de Deus na tarefa evangelizadora que nos foi confiada desde sempre: “ide e fazei discípulos” e “eu estarei convosco até ao fim dos tempos”. É nesta dialética que a Igreja sempre se deve colocar, traduzida numa linguagem inaciana é o “faz tudo como se dependesse só de ti, sabendo que tudo depende só de Deus”.
Daí ser tão necessário e urgente colocar este motivo para a oração da comunidade. É fundamental pedir às nossas comunidades para que rezem ao Espírito capaz de penetrar a força humana e retirá-la de um autossuficiência que não deixe que esse mesmo espírito possa agir.

(2) “… começamos um novo encontro eclesial, capaz de ampliar os horizontes, dilatar os corações e transformar as estruturas, que hoje nos paralisam, dividem e afastam dos jovens…” PP Francisco

Como viver e dar vida nova à Igreja Paroquial para que haja um recomeço?
Exemplos concretos.

Todo o recomeço tem em si duas grandes exigências: a primeira aprender como passado, o que dele foi francamente positivo e o que é necessário purificar para que não se assuma como fantasma do presente, e a segunda a capacidade de acionar o “START” de um novo tempo, de novas propostas, feitas como uma nova linguagem e fundadas num Evangelho que é sempre novo.
É claro que toda esta exigência só poderá ser realizada com grande disponibilidade interior para a mudança e a renovação, com grande vontade de alcançar uma criatividade que possa quebrar padrões e preconceitos.
Referindo-me ao primeiro ponto, concretamente, creio que não podemos apagar ou simplesmente colocar à margem todo o trabalho que a Igreja realizou e realiza com os jovens. No entanto, é necessário reanimar aquela força de quem sabe estar atento a cada um e não ao número, às “massas”. Para isso, e tanto como o exortou o Sínodo, é necessário o acompanhamento, a presença e disponibilidade de estar nos seus ambientes e escutar entendendo as suas realidades e dilemas. Contrariamente a uma ideia de querer que sejam eles “a vir” para nos ouvirem. Só nesta proximidade se pode cada um sentir amado e verdadeiro filho.
Já o segundo ponto, que aponta para a novidade e a criatividade, é urgente uma readaptação da Igreja ao melhor que a cultura atual, particularmente digital, possa ter. É preciso passar da desconfiança à verdadeira dimensão da presença do mundo juvenil nesse “mundo virtual” que é cada vez mais a sua realidade. Isso exige criatividade, exige desenvolver conteúdos, exige um trabalho sério e de grande dedicação e investimento.

(3) O bispo de Dolisie (República do Congo) disse que o Sínodo era "uma espécie de lançamento em órbita".

Como é que todos nós nos fomos esquecendo do funcionamento harmonioso e em dinâmica fluída do Universo?
Que atitudes e comportamentos nos levaram a um Universo pesado, pouco dinâmico e de luta de poderes?

Respondendo à primeira questão, creio que o nosso tempo se revela pelo seu desmesurado “alter ego”, que coloca cada pessoa como o centro gravitacional de todo o universo. Esse perigo tem-se manifestado também na Igreja. A diversidade de movimentos e carismas, tão positiva e sinal da riqueza de uma Igreja aberta ao Espírito, tem se tornado, também, motivo de divisão e de dedicação de esforços compartimentados, como que se cada um se preocupasse só com o que é seu esquecendo a missão de trabalhar para o “Corpo”. Quando assim acontece, acontece também uma certa “luta de poderes” e de ideais que colocam Jesus Cristo e o seu Reino bem mais longe do que realmente Ele está. Quando um movimento ou carisma se fecha em si mesmo não só se coloca em causa a si mesmo como a própria Igreja.
Continuo a resposta à segunda parte da questão como a mesma convição de que a “supremacia do eu” por parte de alguns líderes fragmentam a ação evangelizadora a que a Igreja está sempre chamada. Talvez o “populismo” também se instale na comunidade dos crentes e isso fez esquecer a fraternidade e a comunhão a que a Igreja está chamada e é principio fundante da sua existência.

(4) O cardeal Tagle disse: "No meu Círculo Menor percebemos que a força da sabedoria que vem das mulheres deve ser ouvida.”

Como se pode, na Igreja local, dar Sentido à sabedoria das mulheres e dignificar a sua inteligência, criatividade e sensibilidade? Exemplos concretos.

Eu sou daqueles que creio que as mulheres nunca poderão ser subestimadas seja em que ação for. O seu papel, a sua sensibilidade e capacidade, a sua docilidade e fortaleza são demasiado preciosas para que possam ser desvalorizadas. É certo que, enquanto herança do passado, o seu contributo tenha sido apagado pelo legado “judaico- cristão”. Mas, e para além de qualquer ideologia do género e longe da discussão do sacerdócio feminino, a verdade é que a mulher tem um lugar na hierarquia da Igreja, na hierarquia do ensinamento, do acompanhamento, da orientação e do governo e isso é francamente positivo para que muitos preconceitos e das barreiras existentes possam desaparecer.

(5) Como ser uma Igreja de todos e para todos? 
Tendo consciência de que os jovens estão sedentos de ser acolhidos, escutados e não julgados.

Esse é de certeza o sonho do Papa Francisco, porque é o desejo de Deus. Aliás, Jesus não veio fazer mais do que isso: trazer-nos a certeza de que seja qual for a nossa condição Deus ama. O “primeiro anúncio” da mensagem cristã sempre se fixou na certeza máxima de que “Cristo ama-te e entregou-se por ti”. Isso é mais do que suficiente para poder transmitir esse desejo de um Deus sedento dos homens.
A linguagem da Igreja é que se tem multiplicado em conceitos e princípios doutrinários que nos tem feito esquecer tudo isto. Logo, no início do seu pontificado o Papa Francisco pediu-nos que “descomplicássemos” a nossa doutrina, a fim de que todos pudéssemos chegar a ela com facilidade e motivação. Claro que tanto mais isso se aplica aos jovens, que não buscam conceitos complicados de uma fé que para eles é suficientemente complexa na descoberta da “graça” que lhes parece tão próxima, mas que pela complexidade dos conceitos é colocada lá tão longe.
Uma Igreja de todos e para todos é a Igreja que abre os braços a Zaqueu, que se curva para escrever na areia ao lado da pecadora, que se senta à mesa com os publicanos e que entende quem sofre o divórcio, quem se define homossexual ou então não encontra oportunidades para ser feliz onde se encontra.
Claro que há uma doutrina que não se pode subestimar e apagar; há um respeito para com a tradição e a própria instituição canónica, mas é urgente dispormo-nos a formar consciências não a julgá-las.

(6) “O percurso de 6 Km percorridos nesta quinta-feira (25 de outubro) pelos Padres Sinodais e jovens auditores que participam da assembleia dos bispos no Vaticano faz parte da Via Francigena, mas acabou sendo rebatizada. Dom Vilsom Basso, presidente da Comissão Episcopal Pastoral para a Juventude da CNBB, que caminhou junto ao grupo, descreveu a peregrinação espiritual feita até o túmulo de São Pedro, na Cidade Eterna, como os passos percorridos pelos discípulos de Emaús até encontrar Jesus.”

Como podemos através da arte do Encontro trazer aos jovens e aos mais velhos, Religiosos e Leigos, um desejo de peregrinar e permitir-se a uma Interioridade que nos conduz para o Outro e nos realiza no Outro? 
Exemplos concretos.

Eu creio que este paradigma de Emaús é de fato o caminho da Igreja. O Sínodo gritou-o por diversas vezes e todos conseguimos perceber que o ACOMPANHAMENTO é a chave de toda a acção da Igreja neste momento concreto. A Igreja precisa de conhecer e chamar cada um pelo nome próprio, não pode querer desejar as massas, não pode voltar a sonhar com o “cesaropapismo”, tem de descer do trono, sujar os pés e as mãos para entender que essa é a sua missão no mundo. Recordo frequentemente as palavras do Papa Francisco na primeira eucaristia a que presidiu logo após a sua eleição: “a Igreja é um caminho que se faz sempre debaixo da luz de Deus, que confessa Jesus Cristo como Senhor e que por isso propõe a Cruz como companheira desse caminho”.
Quando nos propomos a trilhar este caminho juntos, em plena comunhão, respeitando o ritmo de cada um, a diversidade de carismas e multiplicidade de expressões são a grande mais valia para uma Igreja de todos.
Quanto a ações concretas a primeira delas passará sempre pelo diálogo motivado pelas preocupações comuns, o traçar de estratégias comuns e a centralização de energias para descobrir o sentido daquilo que Cristo espera desta Igreja, porque assim ela é acompanhada pelo Paráclito.

(7) Agradecendo a disponibilidade, o acolhimento e o compromisso em responder a todas as perguntas lançadas, que Graça a Pedir partilha connosco neste tempo próprio para continuar o caminho em todas as partes da terra onde o Senhor Jesus nos envia, a todos, como discípulos missionários, a ser o presente e o futuro mais luminoso?

A graça a pedir que deixo como desafio é a de que nenhum cristão se sinta fora desta missão de trabalhar e dar de si para que a Igreja se consiga renovar e mostrar a beleza que a deve caracterizar. Se cada um de nós se empenhar nesta tarefa será o nosso rosto, o nosso testemunho a imagem de Cristo a chamar e a desafiar, nas muitas margens do Lago da Galileia que estão pelo mundo.

[Agradeço ao P. Luís Pardal o seu acolhimento, alegria e disponibilidade em partilhar o seu sentir nesta iniciativa.]



Unidos no Senhor,

By Sofia Preto
CVX-BI