A nossa Comunidade é formada por cristãos: homens e mulheres, adultos e jovens, de todas as condições sociais que desejam seguir Jesus Cristo mais de perto e trabalhar com Ele na construção do Reino, e reconheceram na CVX a sua particular vocação na Igreja (PG4)

21 setembro 2010

O Turista e o Peregrino

Agora que Setembro nos trouxe de regresso às trajectórias do quotidiano, é bom pensar que o turista e o peregrino convivem dentro de nós.

O turista e o peregrino têm mais em comum do que possa parecer. Um pelo caminho do lazer, outro pela volta do sagrado: é, contudo, um impulso antropológico semelhante que os move. A experiência da saída de si, o desejo de outras paisagens, a busca de alteridade são traços reconhecíveis tanto num como noutro. O peregrino conserva alguma coisa do turista. O caminho de peregrinação, mesmo quando assume um carácter penitencial, não perde um tom festivo, uma quase ligeireza, que não é distracção, mas celebração. Tal como o turista conserva coisas do peregrino. Qualquer viagem pressupõe, por exemplo, uma reflexividade, uma experimentação sobre si mesmo, um saber de si. Mesmo se o que vemos são linhas, digressões por cidades ou trilhos, mesmo se nos parece estar apenas perante a representação objectiva da paisagem diurna ou do deslumbramento nocturno: por detrás de cada fragmento solto do mundo encontra-se uma pergunta maior.

A palavra turismo, de coloração anglo-saxónica, traduz a viagem motivada pelo prazer de mergulhar no aberto do mundo. Aparentemente não há nela uma necessidade ou um qualquer retorno utilitário. Nem há sequer, na maior parte dos casos, uma intencionalidade muito definida ou maturada. Num verso de Baudelaire, que é uma espécie de dístico, diz-se que «o verdadeiro viajante/é aquele que parte por partir». O turista é mobilizado pelo desejo de olhar, de conquistar, de perder («perder países», como Fernando Pessoa explica), fazendo da curiosidade uma marca de cultura e existência.

Mas a peregrinação também é isso, uma forma de viagem. Na prova real da deambulação pelo espaço, o peregrino busca, também ele, uma visão, com uma diferença qualitativa: a natureza dessa visão é interior. Não se trata simplesmente de ver mundo, mas de ver dentro e para lá do mundo, tacteando um sentido, uma luz, um encontro, uma revelação.

Agora que Setembro nos trouxe de regresso às trajectórias do quotidiano, é bom pensar que o turista e o peregrino convivem dentro de nós.

José Tolentino Mendonça


(in http://www.agencia.ecclesia.pt/cgi-bin/noticia.pl?id=81442 acedido em 20 Setembro 2010)

11 setembro 2010

19 Setembro - Abertura Ano CVX-BI 2010/2011

A Abertura do Ano CVX-BI 2010/2011 será no dia 19 Setembro (Domingo)  na Residência da Comunidade dos Jesuítas em S. Tiago (Covilhã), com o seguinte programa:

15h00
Acolhimento
15h15
Apresentação Plano Actividades 2010/2011+Preparação Assembleia Nacional CVX-P
16h15
Celebração Eucarística (o ofertório reverterá para a Comunidade S.Pedro)
17h15
Merenda partilhada

Divulguem junto dos membros CVX dos vossos grupos, familiares e amigos que se queiram associar.

07 setembro 2010

FÉRIAS....

Férias....
Este vaivém que Julho e Agosto introduzem (com viagens mais próximas ou longas, tráfegos de vária ordem, alterações ao quadro de vida corrente…) constitui, para lá de tudo o mais, uma espécie de coreografia interior. Dir-se-ia que a própria vida solicita que a escutemos de outra forma. De facto é disso que se trata, mesmo que se não diga. É com esse imperativo que cada um de nós, mais explícita ou implicitamente, luta: a necessidade irresistível de reencontrar a vida na sua forma pura.


Se a linha azul do mar tanto nos seduz é também porque essa imensidão nos lembra o nosso verdadeiro horizonte. Se subimos aos altos montes é porque na visão clara que aí se alcança do real, nessa visão resplandecente e sem cesuras, reconhecemos parte importante de um apelo mais íntimo. Se buscamos outras cidades (e nessas cidades uma catedral, um museu, um testemunho de beleza, um não sei quê…) é também perseguindo uma geografia interior. Se simplesmente investimos numa dilatada experiência do tempo (refeições demoradas, conversas que se alongam, visitas e encontros) é porque a gratuidade, e só ela, nos dá o sabor adiado da própria existência.

Entendemos bem aquele verso de Ruy Belo  que diz: «Espero pelo verão como quem espera por uma outra vida». Na verdade, não é por uma vida estranha e fantasiosa que esperamos, mas por uma vida que realmente nos pertença. Por isso é tão decisivo que as férias, tempo aberto às múltiplas errâncias, não se torne um período errático e vago; tempo plástico e criativo e não se enrede nas derivas consumistas; tempo propício à humanização não se perca na fuga a si mesmo e no ruído do mundo. Em toda a tradição bíblica o repouso é uma oportunidade privilegiada para mergulhar mais fundo, mais dentro, mais alto. É aceitar o risco de sentir a vida integralmente e de maravilhar-se com ela: na escassez e na plenitude, na imprevisibilidade dolorosa e na sabedoria confiante.


José Tolentino Mendonça

In O hipopótamo de Deus e outros textos, ed. Assírio & Alvim