«Caríssimos jovens!
É-me grato anunciar-vos que em outubro de 2018 se celebrará o Sínodo dos Bispos sobre o tema “Os jovens, a fé e o discernimento vocacional”. Eu quis que vós estivésseis no centro da atenção, porque vos trago no coração.»
(1) “O Espírito Santo, que o Pai enviará em meu nome, lhes
ensinará tudo e recordará tudo o que Eu lhes disse”.
O Papa Francisco iniciou assim a homilia da Santa Missa, por
ocasião da inauguração do Sínodo dos Bispos, que se realizou no Vaticano de 3 a
28 de outubro, com um trecho do Evangelho de S. João. Procurou transmitir na
abertura do Sínodo que a Esperança, os Sonhos e a Alegria resultam daquele que
se deixa moldar pelo ES.
Como dentro da comunidade paroquial que assiste, P. Luís, consegue
sensibilizar para o ES que move e molda nesta situação de Sínodo sobre “Os
jovens, a fé e o discernimento vocacional”?
Seria demasiado pessimista
dizer que que não, que as comunidades não têm essa perceção do trabalho e da
força do Espírito Santo a agir naqueles que se dispõem a refletir e trabalhar
uma situação tão urgente para a Igreja, como o é a questão dos jovens.
Porém talvez uma porção
significativa dos cristãos possa pensar que toda esta questão passará muito por
estratégia humana e de redescoberta de dinamismo para “convencer” os jovens a
ocuparem o seu lugar na Igreja, a fim de que ela, como Instituição transmita um
espírito mais alegre e jovial.
Mas, aquilo que aqui se coloca,
precisamente, é o dinamismo entre as capacidades humanas e a ação de Deus na
tarefa evangelizadora que nos foi confiada desde sempre: “ide e fazei
discípulos” e “eu estarei convosco até ao fim dos tempos”. É nesta dialética
que a Igreja sempre se deve colocar, traduzida numa linguagem inaciana é o “faz
tudo como se dependesse só de ti, sabendo que tudo depende só de Deus”.
Daí ser tão necessário e
urgente colocar este motivo para a oração da comunidade. É fundamental pedir às
nossas comunidades para que rezem ao Espírito capaz de penetrar a força humana
e retirá-la de um autossuficiência que não deixe que esse mesmo espírito possa
agir.
(2) “… começamos um novo encontro eclesial, capaz de ampliar
os horizontes, dilatar os corações e transformar as estruturas, que hoje nos
paralisam, dividem e afastam dos jovens…” PP Francisco
Como viver e dar vida nova à Igreja Paroquial para que haja
um recomeço?
Exemplos concretos.
Todo o recomeço tem em si
duas grandes exigências: a primeira aprender como passado, o que dele foi
francamente positivo e o que é necessário purificar para que não se assuma como
fantasma do presente, e a segunda a capacidade de acionar o “START” de um novo
tempo, de novas propostas, feitas como uma nova linguagem e fundadas num
Evangelho que é sempre novo.
É claro que toda esta
exigência só poderá ser realizada com grande disponibilidade interior para a
mudança e a renovação, com grande vontade de alcançar uma criatividade que
possa quebrar padrões e preconceitos.
Referindo-me ao primeiro
ponto, concretamente, creio que não podemos apagar ou simplesmente colocar à
margem todo o trabalho que a Igreja realizou e realiza com os jovens. No
entanto, é necessário reanimar aquela força de quem sabe estar atento a cada um
e não ao número, às “massas”. Para isso, e tanto como o exortou o Sínodo, é
necessário o acompanhamento, a presença e disponibilidade de estar nos seus
ambientes e escutar entendendo as suas realidades e dilemas. Contrariamente a
uma ideia de querer que sejam eles “a vir” para nos ouvirem. Só nesta
proximidade se pode cada um sentir amado e verdadeiro filho.
Já o segundo ponto, que
aponta para a novidade e a criatividade, é urgente uma readaptação da Igreja ao
melhor que a cultura atual, particularmente digital, possa ter. É preciso
passar da desconfiança à verdadeira dimensão da presença do mundo juvenil nesse
“mundo virtual” que é cada vez mais a sua realidade. Isso exige criatividade,
exige desenvolver conteúdos, exige um trabalho sério e de grande dedicação e
investimento.
(3) O bispo de Dolisie (República do Congo) disse que o
Sínodo era "uma espécie de lançamento em órbita".
Como é que todos nós nos fomos esquecendo do funcionamento
harmonioso e em dinâmica fluída do Universo?
Que atitudes e comportamentos nos levaram a um Universo
pesado, pouco dinâmico e de luta de poderes?
Respondendo à primeira
questão, creio que o nosso tempo se revela pelo seu desmesurado “alter ego”,
que coloca cada pessoa como o centro gravitacional de todo o universo. Esse
perigo tem-se manifestado também na Igreja. A diversidade de movimentos e
carismas, tão positiva e sinal da riqueza de uma Igreja aberta ao Espírito, tem
se tornado, também, motivo de divisão e de dedicação de esforços
compartimentados, como que se cada um se preocupasse só com o que é seu
esquecendo a missão de trabalhar para o “Corpo”. Quando assim acontece,
acontece também uma certa “luta de poderes” e de ideais que colocam Jesus
Cristo e o seu Reino bem mais longe do que realmente Ele está. Quando um
movimento ou carisma se fecha em si mesmo não só se coloca em causa a si mesmo
como a própria Igreja.
Continuo a resposta à
segunda parte da questão como a mesma convição de que a “supremacia do eu” por
parte de alguns líderes fragmentam a ação evangelizadora a que a Igreja está
sempre chamada. Talvez o “populismo” também se instale na comunidade dos crentes
e isso fez esquecer a fraternidade e a comunhão a que a Igreja está chamada e é
principio fundante da sua existência.
(4) O cardeal Tagle disse: "No meu Círculo Menor
percebemos que a força da sabedoria que vem das mulheres deve ser ouvida.”
Como se pode, na Igreja local, dar Sentido à sabedoria das
mulheres e dignificar a sua inteligência, criatividade e sensibilidade?
Exemplos concretos.
Eu sou daqueles que creio
que as mulheres nunca poderão ser subestimadas seja em que ação for. O seu
papel, a sua sensibilidade e capacidade, a sua docilidade e fortaleza são
demasiado preciosas para que possam ser desvalorizadas. É certo que, enquanto
herança do passado, o seu contributo tenha sido apagado pelo legado “judaico-
cristão”. Mas, e para além de qualquer ideologia do género e longe da discussão
do sacerdócio feminino, a verdade é que a mulher tem um lugar na hierarquia da
Igreja, na hierarquia do ensinamento, do acompanhamento, da orientação e do
governo e isso é francamente positivo para que muitos preconceitos e das
barreiras existentes possam desaparecer.
(5) Como ser uma Igreja
de todos e para todos?
Tendo consciência de que os jovens estão sedentos de ser
acolhidos, escutados e não julgados.
Esse é de certeza o sonho do Papa Francisco,
porque é o desejo de Deus. Aliás, Jesus não veio fazer mais do que isso:
trazer-nos a certeza de que seja qual for a nossa condição Deus ama. O
“primeiro anúncio” da mensagem cristã sempre se fixou na certeza máxima de que
“Cristo ama-te e entregou-se por ti”. Isso é mais do que suficiente para poder
transmitir esse desejo de um Deus sedento dos homens.
A linguagem da Igreja é que se tem
multiplicado em conceitos e princípios doutrinários que nos tem feito esquecer
tudo isto. Logo, no início do seu pontificado o Papa Francisco pediu-nos que
“descomplicássemos” a nossa doutrina, a fim de que todos pudéssemos chegar a
ela com facilidade e motivação. Claro que tanto mais isso se aplica aos jovens,
que não buscam conceitos complicados de uma fé que para eles é suficientemente complexa
na descoberta da “graça” que lhes parece tão próxima, mas que pela complexidade
dos conceitos é colocada lá tão longe.
Uma Igreja de todos e para todos é a Igreja
que abre os braços a Zaqueu, que se curva para escrever na areia ao lado da
pecadora, que se senta à mesa com os publicanos e que entende quem sofre o
divórcio, quem se define homossexual ou então não encontra oportunidades para
ser feliz onde se encontra.
Claro que há uma doutrina que não se pode
subestimar e apagar; há um respeito para com a tradição e a própria instituição
canónica, mas é urgente dispormo-nos a formar consciências não a julgá-las.
(6) “O percurso de 6
Km percorridos nesta quinta-feira (25 de outubro) pelos Padres Sinodais e jovens auditores
que participam da assembleia dos bispos no Vaticano faz parte da Via
Francigena, mas acabou sendo rebatizada. Dom Vilsom Basso, presidente da
Comissão Episcopal Pastoral para a Juventude da CNBB, que caminhou junto ao
grupo, descreveu a peregrinação espiritual feita até o túmulo de São Pedro, na
Cidade Eterna, como os passos percorridos pelos discípulos de Emaús até
encontrar Jesus.”
Como
podemos através da arte do Encontro trazer aos jovens e aos mais velhos,
Religiosos e Leigos, um desejo de peregrinar e permitir-se a uma Interioridade
que nos conduz para o Outro e nos realiza no Outro?
Exemplos concretos.
Eu creio que este paradigma de Emaús é de
fato o caminho da Igreja. O Sínodo gritou-o por diversas vezes e todos
conseguimos perceber que o ACOMPANHAMENTO é a chave de toda a acção da Igreja
neste momento concreto. A Igreja precisa de conhecer e chamar cada um pelo nome
próprio, não pode querer desejar as massas, não pode voltar a sonhar com o
“cesaropapismo”, tem de descer do trono, sujar os pés e as mãos para entender
que essa é a sua missão no mundo. Recordo frequentemente as palavras do Papa
Francisco na primeira eucaristia a que presidiu logo após a sua eleição: “a
Igreja é um caminho que se faz sempre debaixo da luz de Deus, que confessa
Jesus Cristo como Senhor e que por isso propõe a Cruz como companheira desse
caminho”.
Quando nos propomos a trilhar este caminho
juntos, em plena comunhão, respeitando o ritmo de cada um, a diversidade de
carismas e multiplicidade de expressões são a grande mais valia para uma Igreja
de todos.
Quanto a ações concretas a primeira delas
passará sempre pelo diálogo motivado pelas preocupações comuns, o traçar de
estratégias comuns e a centralização de energias para descobrir o sentido
daquilo que Cristo espera desta Igreja, porque assim ela é acompanhada pelo
Paráclito.
(7) Agradecendo a disponibilidade, o acolhimento e o compromisso em responder a todas as perguntas lançadas, que Graça a Pedir partilha connosco neste tempo próprio para continuar o caminho em todas as partes da terra onde o Senhor Jesus nos envia, a todos, como discípulos missionários, a ser o presente e o futuro mais luminoso?
A graça a pedir que deixo como desafio é a de que nenhum cristão se sinta fora desta missão de trabalhar e dar de si para que a Igreja se consiga renovar e mostrar a beleza que a deve caracterizar. Se cada um de nós se empenhar nesta tarefa será o nosso rosto, o nosso testemunho a imagem de Cristo a chamar e a desafiar, nas muitas margens do Lago da Galileia que estão pelo mundo.
[Agradeço ao P. Luís Pardal o seu acolhimento, alegria e disponibilidade em partilhar o seu sentir nesta iniciativa.]
Unidos no Senhor,
By Sofia Preto
CVX-BI